Nesse fim de semana terminei de ler o novo livro de Daniel Galera, que fez parte daquela leva de escritores que apareceram com a onda da internet e dos Blogs, infelizmente poucos desses talentos vigaram, Daniel é um dos que se destacaram com maior vigor, junto com Clarah Averbuck (da qual destacamos o último livro aqui no Blog), e seu novo livro “Barba Ensopada de Sangue”, prova isso.
A sinopse já mostra que os temas do autor se aprofundaram: Um professor de educação física busca refúgio em Garopaba, um pequeno balneário de Santa Catarina, após a morte do pai. O protagonista (cujo nome não se conhece) se afasta da relação conturbada com os outros membros da família e mergulha em um isolamento geográfico e psicológico. Ao mesmo tempo, ele empreende a busca pela verdade no caso da morte do avô, Gaudério, que teria sido assassinado décadas antes na mesma Garopaba, na época apenas uma vila de pescadores. Sempre acompanhado por Beta, cadela do falecido pai, o professor mergulha na investigação sobre o misterioso Gaudério, esquadrinhando as lacunas do pouco que lhe é revelado, a contragosto, pelos moradores mais antigos da cidade. Portador de uma condição neurológica congênita que o obriga a interagir com as outras pessoas de um modo peculiar, o professor estabelece relações com alguns moradores – uma garçonete e seu filho pequeno, os alunos da natação, um budista histriônico, a secretária de uma agência turística de passeios. Aos poucos, ele vai reunindo as peças que talvez lhe permitirão entender melhor a própria história.
“Barba Ensopada de Sangue” se propõe a resgatar e levar às últimas consequências temas e conflitos das obras anteriores do autor tais como – a construção da identidade e, nesse processo, as dificuldades que se enfrenta para entender e reconhecer os outros; a necessidade inconfessa de uma reparação talvez inviável; a busca pela unidade entre mente e corpo; o consolo afetivo que o contato com a natureza e os animais é capaz de proporcionar; os diversos tipos de violência que podem irromper em meio a uma existência domesticada.
O ritmo tranquilo que o autor impõe a história dá uma ideia da maturidade que o autor ganhou com os anos. Adoro seus primeiros livros: “Até o Dia em que o Cão Morreu”, que ganhou versão cinematográfica nas mãos do diretor Beto Brant, o filme “Cão sem dono” ficou ótimo. Também gosto muito do “Mãos de Cavalo”, seu 3º romance e sua estreia na Editora Companhia das Letras. “Cordilheira”, seu livro anterior a “Barba Ensopada de Sangue”, ganhou o Prêmio Machado de Assis de Romance, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional em 2008, além do 3° lugar do Prêmio Jabuti. Pensando bem Galera não melhorou tanto assim, ele já era bom pacas desde os seus primeiros livros. Enfim “Barba Ensopada de Sangue” é um baita livro.
BARBA ENSOPADA DE SANGUE – Daniel Galera – 424 páginas – Companhia das Letras