Parthenope

Cinema de Luxo X Filmes Fashion

Marcas de moda e luxo investem pesado em filmes de grandes nomes do cinema de arte

Os festivais de cinema e os streamings estão atualmente cheios de produções cinematográficas ou séries sobre os bastidores das grandes marcas de luxo e de seus geniais criadores. Alguns fizeram bastante sucesso de público e crítica como House of Gucci (2021), de Ridley Scoot, Coco Antes de Chanel (2009) de Anne Fountane, e as duas biografias de Ives Saint Laurent lançadas em 2014, uma mais delicada do diretor Jalil Lespert e outra mais longa e mais estridente do diretor Bertrand Bonello, apenas citando as mais famosas.

Mais discretos os documentários também fazem seu papel de contar algumas dessas histórias: Valentino, o último Imperador (2008) de Matt Tyrnauer, Dior e Eu (2014) de Frederic Tcheng, High e Low Jonh Galliano (2023) de Kevin Macdonald são alguns de qualidade superior.

Mais recentemente os streamings entraram na onda e vem fazendo sucesso com algumas séries, só em 2024 já foram lançadas as series: Cristóbal Balenciaga no Star+, Becoming Karl Lagerfeld na Disney e The New Look da Apple, que mostra a história chocante de como o ícone da moda, Christian Dior, e seus contemporâneos, como Coco Chanel, Pierre Balmain e Cristóbal Balenciaga, navegaram pelos horrores da Segunda Guerra Mundial e deram início à moda moderna.

Todos, de uma forma ou de outra tentam contar a história desses verdadeiros ícones do mundo da moda, alguns com mais qualidade outras com pontos duvidosos tanto na veracidade dos fatos apresentados quanto na estética apresentada.

Clássicos como Bonequinha de Luxo (1961), Prét-à-Porter (1994) sátira poderosíssima de Robert Altman e o fenômeno Diabo Veste Prada (2006), comprovam que o mundo do Cinema sempre se interessou pelo mundo da Moda.
O que mudou é que nos últimos podemos perceber um real interesse do mundo da moda pelo cinema de arte, aquele tipo de filme que não movimenta tanto as bilheterias mas causa furor nos tapetes vermelhos dos festivais mais importantes. Um exemplo disso foi o festival de Cannes desse ano que trouxe em competição três filmes produzidos pelo Saint Laurent Productions, produtora da grife do mesmo nome e projeto do diretor artístico da grife Anthony Vaccarello, The Shrouds, de David Cronenberg, Parthenope, de Paolo Sorrentino, e, Emilia Perez, estrelado por Selena Gomez, Zoe Saldaña, Edgar Ramirez e dirigido pelo Jacques Audiard. São projetos muito sofisticados de diretores de muito prestigio na indústria, mas que nos últimos anos não vem tendo grandes sucessos comerciais.
O estúdio da casa Saint Laurent parece estar encabeçando essa onda, pois em 2023 lançou seu primeiro projeto com ninguém menos que Pedro Almodóvar, com o filme Strange Way of Life, com os queridinhos da vez Pedro Pascal e Tilda Swinton.

O projeto já anunciou, ainda sem data de lançamento, outras produções de diretores de peso como Abel Ferrara e o seu documentário Sportin´ Life, Lux AEterna de Gaspar Noé, A Night in Shanghai que tem curadoria do mestre Wong Kar Wai e é dirigido por Wing Shiva, além de um curioso curta metragem do escritor americano East Bret Ellis, autor de clássicos da literatura que também viraram filmes cultuados como Abaixo de Zero (1987) e Psicopata Americano (2000).

Outro improvável personagem dessa nova tendência é o diretor Italiano Luca Guadagnino que mesmo sendo um artista de vanguarda está sempre inserido em alguns projetos que conversam com a moda, além do seu filme Um Sonho de Amor (2009), ter um forte apelo visual e toda classe da moda italiana nos figurinos como um dos pontos fortes, fez em parceria com o diretor criativo da Valentino, Pierpaolo Piccioli, o média metragem The Staggering Girl (2019) e logo em seguida o interessante Salvatore: Shoemaker of Dreams (2020), cinebiografia de Salvatore Ferragamo, criativo polêmico da marca que leva seu nome. Seu próximo filme também está sendo produzido por uma marca de moda (ainda não revelada oficialmente)

Mas o que será que está por trás dessa tendência?

Há alguns anos tem se visto que os grandes conglomerados da moda e do luxo estão buscando ampliar seus negócios, muitos já têm seus hotéis, outros seus cafés, alguns montaram restaurantes gourmet, mas muitos vem investindo cada vez mais no marketing de experiência nos maiores points do verão Europeu! Será que que a ânsia por criar e por ter seus clientes inseridos em ambientes da marca se estendeu as salas de cinema? Ou a indústria da moda percebeu que filmes de super heróis, que dominaram os investimentos da indústria nos últimos anos, são incapazes de gerar ícones fashion como Audrey Hepburn e seus looks Givanchy em Bonequinha de Luxo (1961), ou os looks xadrez da Dolce & Gabbana de Alicia Silverstone em As Patricinhas de Beverly Hills (1995) ou toda a gama de Pradas, Chanels, Hermes entre outras grifes de Miranda Priestly em O Diabo Veste Prada (2006), que marcou toda uma geração de fashionistas e acaba de divulgar sua continuação.

Sempre houve uma simbiose entre os dois universos, da moda e do cinema, esse encontro do público com suas estrelas, sempre gerou muito barulho e dinheiro, e atualmente cliques, mas essa aposta de algumas marcas em conteúdo visualmente sofisticado parece ter mais alguns pontos em questão. Talvez o interesse seja genuíno e uma incessante busca por inspiração, ou uma tentativa de se retroalimentar visualmente com de referências mais sofisticadas, afinal são filmes de muito apuro visual, talvez apenas um brinquedo glamuroso e caro na mão de criativos com muito poder, seja lá qual for a razão desse movimento, Fashionistas e Cinéfilos que aproveitem essa onda de ótimos filmes de grandes nomes dos dois mundos.

Um dos primeiros nomes de peso a seguir essa tendência foi o Cultuadíssimo diretor criativo TOM FORD que fez história na Gucci, em parceria com o lendário fotografo Mario Testino fez campanhas históricas e revolucionou a imagem da marca italiana citada no primeiro filme desse artigo. Também teve papel protagonista na virada da marca Saint Laurent já citada aqui também quando essa foi adquirida pelo mesmo grupo da Gucci. Após muito sucesso com a marca com o seu próprio nome em 2005, anunciou a criação de uma produtora de filmes, a Fade to Black, e em 2009 lançou seu primeiro longa A Single Man, que além de dirigir, desenvolveu o roteiro e financiou a produção. Ambientado nos anos 1960 o visual foi criado pela mesma equipe de Mad Man, aclamada série que retrata a mesma época e muito bem recebido pela crítica. A Single Man foi indicado ao Leão de Ouro na 66º Festival Internacional de Cinema de Veneza, recebeu o grande prêmio do Sindicato de Críticos de Cinema da Bélgica, o GLAAD Media de melhor filme com lançamento amplo e foi nomeado o filme do ano pelo American Film Institute. Colin Firth recebeu o BAFTA de melhor ator em cinema e foi indicado ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao SAG Awards por sua atuação. Julianne Moore foi indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante.

Animais Noturnos (2016) seu segundo filme como diretor, roteirista e produtor é baseado no Romance de Austin Wright Tony and Susan (1993) foi muito elogiado e venceu o Grande Prêmio do Juri na 73ª. Edição do Festival de Cinema de Veneza entre outros prêmios e diversas indicações no Critics´Choice Awards e até ao Oscar.

Sucesso em Cannes filmes que logo estreiam no Brasil:

  • The Shrouds, de David Cronenberg,
  • Parthenope, de Paolo Sorrentino,
  • Emilia Perez, de Jacques Audiard.

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