Na escuridão, amanhã

Terminei de ler o livro de estreia de Rogério Pereira, e fiquei muito bem impressionado com a força e a potência da obra. Dura e poética, a realidade do romance é surpreendente e ao mesmo tempo decadente. Enfim, um grande livro.

Ambientada primeiro no campo, no interior de um estado do sul do Brasil, a narrativa desvenda uma roça anti-idílica, sufocante, em que os protagonistas – um casal e seus três filhos – se enredam cada vez mais na ausência de comunicação, perseguidos pela ideia de um Deus sem piedade. Ao migrar para a cidade grande em busca de uma vida melhor, a família se desgarra e se perde.

A escuridão é o fim, o fim dos personagens, dos sonhos, das angústias. Amanhã é a incerteza, a perspectiva de um futuro desconhecido mas certamente ameaçador, pois é impossível que traga algo de bom. Viver é avançar para lugar nenhum. Por mais que invoque a proteção de Deus, não há conforto na experiência amedrontada, desencadeada da vida dos personagens deste livro em que a memória é convocada obsessivamente, como se narrar o que foi vivido pudesse ser uma redenção.

O resultado é uma obra surpreendente em sua força claustrofóbica e em sua poesia contundente.

Na Escuridão, Amanhã

Rogério Pereira

128 páginas | Editora Cosac Naify | R$ 32

NEWSLETTER CULTPICKS