Musicais Londres – Crônica S.A.X. #17

Tudo junto, misturado, baseado, inspirado e vice-versa!
Os musicais parecem finalmente ter conquistado o público brasileiro. Dezenas de espetáculos fazem sucesso nas grandes capitais. Gaiola das Loucas, Despertar da Primavera, Mamma Mia, Hair, Avenida Q e o premiadíssimo Gypsy são alguns ótimos exemplos de sucesso de público e crítica.
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Em visita a Londres, no mês passado, fiquei com a sensação de que os brasileiros, em alguns casos, superam as produções originais em muitos aspectos. A dupla Charles Möeller e Claudio Botelho é, em grande parte, responsável pela profissionalização e pela qualidade apresentada nos espetáculos Made in Brazil. Parece estar se formando uma geração de ótimos atores, músicos, cantores, figurinistas, iluminadores e técnicos especializados nesse segmento. Londres e Nova York mantêm milhares de profissionais em espetáculos de segunda a segunda e em alguns dias com duas apresentações.
Praticamente todos os musicais que fizeram algum sucesso já foram adaptados para o cinema e se transformaram em filmes. Alguns com certa competência e qualidade, como Chicago, Hedwig, Billy Elliot e West Side Story, outros não foram tão felizes, mas não comprometeram, como Mamma Mia, Hair e Fantasma da Ópera. No entanto, muitos tiveram desempenhos pífios e atuações constrangedoras.
Nos últimos anos, essa prática ganhou nova tendência em papéis invertidos. Muitos dos musicais que hoje fazem sucesso em Nova York e Londres têm suas temáticas inspiradas e muitas vezes totalmente baseadas em filmes de sucesso.
O Rei Leão, Ghost, Priscilla, Legalmente Loira, Shrek, Grease, Dirty Dancing e Flashdance são apenas alguns dos exemplos mais conhecidos do grande público. Resolvi ver algumas dessas adaptações e embarquei numa maratona de dois espetáculos por noite. Bobagens como Shrek, Elf e Ghost não me convenceram nem a comprar um ingresso, mas confesso que fiquei curiosíssimo para ver Grease – Summer loving had me a blast / Summer loving happened so fast…  Dirty Dancing – Now I’ve had the time of my life / No, I’ve never felt like this before…  e Flashdance – What a feeling / Bein’s believing… entre outros musicais e suas canções no palco. A estrutura e as produções são riquissímas, mas nem sempre as histórias viajam bem das telas para os palcos.
Grease é uma festa só, a produção caprichada e a boa vontade do público garantem os aplausos. Flashdance ficou perfeito nos palcos e a história muitas vezes parece ter sido criada para o musical e não para o filme. Dirty Dancing decepciona um pouco e vi um público de balzacas, meninas-moças com pouco mais de 30 anos que viveram a febre Patrick-calça-e-camiseta-apertada-Swayze, saírem decepcionadas com o musical; esperam por horas a música mais famosa da trilha sonora, que só aparece mesmo no final.
Alguns desses musicais confirmam um certo retorno estético aos anos 80 (Grease foi produzido em 1978, mas fez sucesso pelo mundo na década seguinte e Dirty Dancing se passa nos anos 60 mas tem a estética contaminada pelos 80). Agora, dá para acreditar que re-filmaram Karatê-Kid? Miami Vice virou cult! Gostaria de ver um musical baseado ou inspirado no filme Ruas de Fogo, outro sucesso dessa década, as cenas em que Diane Lane canta, de vermelho e ombreiras, as músicas Tonight Is What It Means To Be Young e Nowhere Fast ficariam ótimas. O difícil é imaginar o resto do espetáculo.
Essa inspiração pelos anos 80 não é uma tendência apenas no mundo das artes, basta um voltinha pelos points mais moderninhos das grandes cidades para se horrorizar com o visual da moçada. As calças coloridas e os óculos new-wave das famílias Cine e Restart comprovam essa minha percepção. Cabelos coloridos e os Mullets, a la Paulo-RPM-Ricardo,  também. Usar um Ray Ban é fácil, quero ver alguém ter coragem de usar blaser com ombreiras gigantescas, calça fusô, polainas e sair cantando What a feeling!
Crônica Publicada na S.A.X. Magazine 17 (Dez/2010)

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