Invasão de informação – Crônica S.A.X. Magazine #25

Um estranho fenômeno vem ocorrendo com frequência cada vez maior nesses tempos modernosos de internet e mídias sociais. Atualmente é praticamente impossível ficar indiferente a alguns acontecimentos, programas, fatos ou notícias, sejam eles de seu interesse ou não. Não importa a origem desses fenômenos, que podemos chamar de “midiáticos”, TV, internet, rádio, ou seja lá de onde surgirem, são pragas que invadem o seu cotidiano.
Mesmo quem não acompanhou a última novela da Rede Globo, o enorme sucesso Avenida Brasil, escrita pelo autor João Emanuel Carneiro, sabia o que se passava no Divino (bairro fictício da trama) e mais ainda sobre alguns dos seus personagens principais. Carminha, Cadinho, Leleco e Suellen foram alguns dos assuntos mais comentados nas redes sociais e pontuavam qualquer conversa informal. Esses personagens viraram tipos característicos e facilmente reconhecidos pelas ruas, o que fizeram  deles bases para muitas elaborações sociológicas meio capengas. #OiOiOi era a hashtag, e o primeiro indício de que a novela começara, e a partir daí, a novela era “O” assunto das redes sociais.
Outro exemplo bem explícito dessa invasão foi tratado na crônica do nosso editor Edgard (pág. 126), a trilogia dos 50 Tons. Não é preciso ler nenhum dos livros, de títulos nada criativos, Cinquenta tons de cinza, Cinquenta tons mais escuros e os Cinquenta tons de liberdade, da autora britânica
E. L. James, para saber do que se trata. Descrito como “pornô para mamães”, é um fenômeno editorial, próximo a alcançar a incrível marca de 50 milhões de exemplares vendidos pelo mundo,  mas que não vai muito além de alguns clichês pseudo eróticos.
Sadomasoquismo, bondage e outras práticas sexuais nada ortodoxas se tornaram assuntos recorrentes e, num arroubo de machismo às avessas, virou piada, com o fato de a personagem, uma adolescente universitária, só aceitar tais atividades sexuais por conta de o “mandante” ser um bilionário, uma espécie de príncipe encantado que trocou o cavalo branco por um Audi R8, e que nenhuma mulher se curvaria às suas vontades se ele fosse um pobre mortal, desses que você encontra no dia a dia, como motoboy, frentista de posto ou cobrador de ônibus, profissões das mais respeitadas, mas nada sedutoras, financeiramente falando. A boa notícia é que você não precisa perder seu tempo lendo os livros para conhecer o tal Christian Grey e seus 150 tons de chatice.
PSY, o bizarro coreano que tomou de assalto as paradas mundiais com o divertido clipe Gangnam Style e suas dancinhas esquisitas, talvez seja o melhor exemplo dessa tendência. Uma espécie de Michel “ai-se-eu- te-pego” Teló do oriente, PSY virou celebridade instantaneamente e saltou direto do anonimato para shows da Madonna e da MTV. Gangnam é o mais caro e nobre bairro de Seul, capital da Coreia do Sul. Lá vivem as pessoas mais ricas e influentes do país e também estão localizadas as lojas mais caras e luxuosas da cidade. Seu vídeo brinca com o “estilo de vida” desse bairro, já foi visto por mais de 850 milhões de pessoas no Youtube e só perde, em número de visualizações, para o também chatinho Justin “baby-baby-baby” Bieber.
No Brasil a coisa toda é mais embaixo e o sertanejo – sabe-se lá porque chamado de universitário – produz pérolas poéticas como “Eu quero tchu, eu quero tcha. Eu quero tchu tcha tcha tchu tchu tcha. Tchu tcha tcha tchu tchu tcha. Tchu tchã tcha tchu tchu tcha”. Juro que não estou fazendo uma aliteração, esse trecho é o refrão da letra oficial da música da dupla João Lucas e Marcelo, repetido duzentas vezes ao longo da genial canção. As letras vergonhosas desse novo segmento da música brasileira deixam alguns críticos com saudades do moribundo axé.
Publicitários, marqueteiros e criativos do mundo inteiro estão atrás da resposta à pergunta, não de um milhão de dólares, mas talvez de um bilhão de dólares: qual será a próxima onda? Será que finalmente chegamos à era preconizada por Andy Warhol, e os 15 minutos de fama se transformaram em 15 milhões de views? Será que não vamos conseguir selecionar o que queremos ouvir, ver e sentir? Essa seleção será feita pela popularidade traduzida em clicks?
Desde a Luiza, que foi e voltou diversas vezes do Canadá, passando pelo clipe “Single Ladies” da Beyoncé, que ganhou milhares de versões caseiras, até a dancinha estranha do PSY, estamos a mercê desses fenômenos, sem ter como se isolar desse tipo de informação, nada relevante e por vezes bem irritante.
Sem muita chance de escapar, o negócio é cair na rede e dançar feito um idiota na frente da tela, seja do computador ou da televisão. Oppan Gangnam style!
Crônica Publicada na S.A.X. Magazine 25 (Dez/2012)

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