Grandes eventos televisivos – Crônica S.A.X. Magazine #23

Grandes eventos televisivos e as constrangedoras transmissões ao vivo
Enfim o carnaval já passou e o ano de 2012 (nesse caso 2013) pode começar para nós, pobres trabalhadores brazucas. Entretanto, em um ano com tantos feriados e eventos como as Olimpíadas em junho e as eleições em outubro, a sensação pode ser de que ele nunca chegue a começar. Mas não vamos discorrer aqui sobre tão falada faceta vadia do nosso badalado país, afinal passamos a Inglaterra em PIB e até fazemos parte de um bloco bem comentado nas rodinhas de Davos, os Brics, o que coisa pouca não deve ser.
O que me incomoda de verdade nesses eventos são as transmissões ao vivo dos grandes canais de TV, e nesse quesito o Carnaval é, sem sombra de dúvida, o grande destaque – só para usar um termo, digamos, carnavalesco. Tentar traduzir em palavras minimamente coerentes um desfile, o enredo ou o desempenho de qualquer escola de samba é digno de prêmio, só que de comédia. Acompanhando um desfile pela telinha (outro termo irritante) você inevitavelmente vai ouvir pérolas como: “Aí vem a comissão de frente da escola tal, vestida de águia, representando as águias”… Sério? Nossa, pensei que estavam ali representando os pelos da orelha de um burro.
E não é só na obviedade que jornalistas carnavalescos falham, os equívocos são parte importante do show de comédia, junto com os personagens pitorescos que só aparecem no carnaval. Os diversos tipos de folia espalhados pelo Brasil e os flashes sobre eles só não são mais irritantes do que os foliões entrevistados e tanta animação.
Em eventos esportivos, os comentaristas se ocupam da obviedade e dos equívocos, mas o destaque são os narradores, que numa linha Galvão Bueno, tentam transformar a mais sonolenta das partidas, seja ela de qualquer esporte, num dramalhão digno de novelas mexicanas. A torcida ufanista pelos atletas brasileiros irrita, não só pela imparcialidade, mas também pela falta de sorte que traz para os pobres desportistas. Antes as coberturas ficassem apenas nas partidas, o problema realmente começa no “extra-campo”, com suas entrevistas enfadonhas, entrevistados nada interessantes e discursos idênticos. Não importa a língua que o indivíduo fale, o discurso é sempre o mesmo. O que provoca a sensação de estarmos entendendo várias línguas.
No caso das Olimpíadas, os agravantes são alguns assuntos tradicionais, como as infinitas matérias que antecedem o período dos jogos, que sempre divulgam à exaustão a cultura e os costumes locais, além de explicar nos mínimos detalhes as tradições olímpicas, a origem dessas tradições, os campeões históricos e seus grandes feitos, além de listas e mais listas das promessas, que tentam imaginar quem pode se dar bem durante os jogos. Os flashes ao vivo, direto do local do evento constrangem até o mais experiente dos apresentadores. Outro grande mico é o evento de abertura, auge do desinteresse, e uma espécie de cirque du soleil, mais longo, menos criativo e bem, bem mais chato.
As eleições poderiam ser bem mais divertidas, mas com tantas regras e restrições da lei eleitoral fica impossível ser mais sem graça. Debates e entrevistas são tão chapa-brancas que deixam a impressão de o Brasil estar repleto de ótimos políticos. Na cobertura, apenas pesquisas e agenda dos candidatos, prática que se transformou em uma das temáticas mais bizarras do jornalismo atual. Ninguém aguenta mais as matérias com eleitores que fazem um esforço “sobre-humano” para cumprir seu papel de cidadão e suas histórias de vida sofrida. Fala-se muito da maravilha de votar, mas nem tanto em como votar ou em quem votar. Em um quadro como esse, a diversão toda fica mesmo com os candidatos e seus bizarros programas eleitorais, que em poucos segundos tentam dizer todos os absurdos em que acreditam, ou que pelo menos tentam convencer o eleitor que acreditam.
Enfim, as transmissões ao vivo desses grandes eventos de 2012 devem deixar o espectador com saudades dos insuportáveis “sermões” de eliminação do BBB, em que o jornalista e poeta Pedro Bial tenta, de maneira meio tosca, inserir algum lirismo no ambiente mundano televisivo. No entanto consegue apenas elevar seu índice de rejeição a patamares de fazer inveja a Galvão Bueno.

Crônica Publicada na S.A.X. Magazine 23(Fev/2012)

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