Todo mundo fala, alguns criticam, outros, na maioria homens, admiram. Mas afinal o que são as piriguetes? E o que essas criaturas mostram sobre a cultura e os costumes do nosso país?
Ninguém sabe muito bem onde surgiu o título, mas alguns dizem que surgiu em Salvador, capital da Bahia, e vem da palavra perigosa e pelo menos a princípio é uma classificação de mulheres conhecidas por estarem sempre na balada, com roupas curtas, muita pele à mostra e, autossuficientes, vão ao ataque dos homens sem se importar com a opinião alheia. Vulgar é o sinônimo mais conhecido e divulgado.
No mundinho fashion elas realmente incomodam. A SPFW (São Paulo Fashion Week), semana de moda mais conhecida do país, nem tinha começado oficialmente, e Alexandre Herchcovitch, em uma entrevista, declarou: “O Brasil tem expertise para fazer roupa de piriguete”, abrindo o tema para os debates mais polêmicos da temporada.
Muito se discute sobre a tal identidade da moda nacional, mas será que o estilo piriguete é a realidade da moda atual? Toda aquela história de cores vivas, alegres e a conhecida descontração da moda brasileira é meio folclórica e até fantasiosa. Para os mais polêmicos o “Piriguetismo” talvez seja o único estilo criado originalmente no Brasil. Uma verdadeira identidade nacional.
Apesar de o assunto vir sendo tratado como novidade, a piriguete não é um personagem novo, ela sempre existiu no imaginário popular. É a “gostosa do bairro”, a “patroa assanhada” ou a “esposa infiel”. Jorge Amado e Nelson Rodrigues descreveram como ninguém essas criaturas sem-vergonha. No entanto, a atitude e a indumentária de algumas piriguetes da novíssima geração deixariam qualquer Gabriela ou Engraçadinha constrangidas. Será que Capitu, personagem célebre de Machado de Assis, é a primeira aparição da piriguete em terra brasilis?
O problema todo é que a piriguete assumiu papel de protagonista. Basta uma zapeada pelos canais de TV, ou uma olhadela nas vitrines dos principais shoppings, para perceber que, apesar de ainda meio mal falada e considerada vulgar, o estilo piriguete está lá, por todos os lados. O sonho nacional está mudando. O sonho de ser uma top model, no melhor estilo Gisele, vai sendo substituído pelo anseio de ser uma Panicat, ou pelo desejo de “pegar” um jogador de futebol, ou uma celebridade de qualquer estirpe. O estilo invadiu as casas da classe média, filhas e esposas adotaram a moda da pouca roupa e muita atitude sem se preocupar com a tênue linha entre o sensual e o sexual.
Mas o piriguetismo é uma questão de comportamento e não apenas de aparência, a aparência apenas traduz numa forma mais visual o tipo de postura adotada, antes mesmo de elas abrirem a boca a colocamos na prateleira das picanhas mais apetitosas do açougue humano. Talvez essa atitude “ousada” e “atirada” incomode mais do que as roupas. O que se vê nas baladas de hoje, seja ela num clube de música eletrônica, numa balada sertaneja, num baile funk, num boteco moderninho ou até num pagode, são moçoilas muito maquiadas, pouco vestidas e sem nenhum pudor levando essa história de curtir a vida às últimas consequências. No melhor estilo “uma noite e nada mais”, “beber, cair e levantar”.
E o homem nessa história toda? Acho até que já existe a versão masculina desse estilo de vida. Pense em Neymar, ele mesmo, o craque do time do Santos, sem a fama e o talento, e talvez tenhamos o protótipo do primeiro “pirigueto”, uma espécie de involução tupiniquim do metrosexual, no piriguetismo o cuidado com a aparência tem menos relevância na imagem do indivíduo, mas isso já é tema para outra coluna. “Beijo, me liga”.
Crônica Publicada na S.A.X. Magazine 24 (Ago/2012)
