Eco-logismo e o Eco-achismo – Crônica S.A.X. Magazine #19

Na hora de decidir sobre o que seria essa coluna, fiquei na dúvida entre dois assuntos que dominaram essa edição: Ecologia e Design. Confesso que gosto mais do design, das suas possibilidades de transformação, não só estéticas como funcionais e que muitas vezes modificam completamente nossa relação com o mundo. No entanto é bem mais gostoso reclamar dos Eco-chatos e suas teorias malucas que, quase sempre, carecem de comprovação científica confiável. Simplesmente adoro quando aparece algum cientista, meio maluco, mas aparentemente cheio de razão, e desmente todas as eco-bobagens difundidas à exaustão.
As eco-teorias muitas vezes nos transformam em indivíduos tomados pela culpa por crimes que nem cometemos. Já senti olhares eco-julgadores pelo simples gesto de carregar as compras de supermercado nas já condenadas sacolinhas plásticas. Não são apenas sacolas, que diga-se são ótimas para colocar o lixo, são armas mortíferas que estão acabando com o mundo e você é o terrorista que está jogando essa bomba no mundo verde e limpinho. Qual é? Sério? É preciso ser muito inocente para achar que esse tipo de coisa vai mudar algo. Basta uma visitinha a um limpinho e cheiroso LIXÃO para entender que o problema social envolvido é muito mais complexo e a coleta seletiva ainda está longe de funcionar.
As cenas do documentário Lixo Extraordinário mostram que o problema do lixo é mais embaixo e depende de vontade política, de ação pública e não individual. Vivemos em sociedade e as ações têm de envolver o todo. Ainda mais em um país que ainda joga lixo de todo o tipo na rua, sofá, colchão, pneus e até armários são vistos boiando nos alagamentos das grandes cidades brasileiras. Triste foi ver a carinha de decepção de uma turminha de crianças bem intencionadas, mini projetos de eco-chatos, quando souberam que, apesar de eles separarem o lixo direitinho na escola, a região onde fica a eco-escolinha, não faz a coleta seletiva e o lixo, reciclável ou não, era juntado assim que saía da lixeira.
Quando Al Gore ganhou o Oscar pelo seu eco-documentário Uma verdade inconveniente (2006) e posteriormente o prêmio Nobel pela sua luta contra a destruição do meio ambiente, sempre acho meio ridículo esse tipo de posicionamento, afinal alguém é a favor da destruição? Pelo amor de Deus! Mas voltando ao Al Gore, juro que quase fiz uma piada com Al Green (tudo verde, captou? Mas deixa para lá). Enfim eu até gostei do filme e tal, mas era tudo tão formatadinho e os dados fechavam e se encaixavam de forma quase mágica às teorias do eco-político, que fiquei com a impressão de haver algo meio estranho por trás de toda aquela verdade verde e muito conveniente ao discurso apresentado. Dito e feito, logo após o anúncio da premiação do filme uma dezena de cientista derrubou, um a um, quase todos os eco-argumentos furados que Green, quer dizer Gore (desculpem, não resisti ao trocadilho imbecil), defendia no eco-documentário.
Não que eu queira a destruição da natureza ou algo que o valha, só quero menos certezas e mais dúvidas, ninguém sabe ao certo por que o planeta está aquecendo, nem se ele está mesmo aquecendo. Como receitar um remédio para febre, se não temos como medir se o cabloco está mesmo com febre? Muitos cientistas estão intrigados com movimentos estranhos na superfície solar, parece que há mais explosões do que o normal e, segundo consta, um espirro da grande estrela basta para fazer todo esse verde virar cinzas.
O que realmente me incomoda são mudanças de ideia tão repentinas, até o terrível tsunami no Japão, a energia nuclear estava sendo considerada uma alternativa verde e limpa. Agora, em poucos dias, governos de todo o mundo mudam radicalmente suas ecopoliticas- energéticas em relação a esse tipo de usina. Uma tragédia daquelas proporções poderia causar problemas em estruturas de qualquer tipo, imagine o que um terremoto daqueles não poderia causar numa usina hidroelétrica ou num poço de petróleo. Veja o que aconteceu no Golfo do México, ninguém conseguia tapar o raio do buraco, foram meses e meses, cada vez que um especialista dizia que agora estava tudo controlado a Natureza parecia agir propositadamente com o objetivo de desmascarar o pobre coitado do engenheiro, provavelmente demitido logo em seguida.
Nem vou entrar nas questões éticas e sócio-econômicas, pois como explicar para esse bilhão de pessoas que acaba de sair da linha de pobreza que eles não devem consumir o que nós consumimos há décadas? Agora que chegou a vez deles jogarem, nós, os donos da bola, a tiramos de campo e guardamos para jogar mais tarde.  Não é justo nem viável controlar a fome de chinesinhos famintos por hambúrgueres e Coca-Cola.
No final das contas é uma questão de fé, feliz é o indivíduo que acredita que suas ações vão salvar o mundo, isso vai contra a lógica e principalmente contra todas as teorias sociológicas. Se todos os eco-chatos gastassem seu tempo trabalhando para convencer políticos e governos a trabalharem mais e melhor, com o objetivo de diminuir a velocidade do desmatamento na Amazônia e também diminuir o desperdício dos bens naturais, garanto que teriam mais resultados com uma política sócio ambiental séria e mais próxima da realidade. Vamos primeiro cuidar do que está intacto para depois começar a mudar a sociedade. Tive uma ideia, vamos voltar a falar de design e desenhar um novo conceito de ecologia, um que pense mais no ser humano e menos no eco-sistema, pense mais no bem estar do seu vizinho e menos no meio ambiente que, honestamente, nós não sabemos como funciona direito.
Crônica Publicada na S.A.X. Magazine 19 (Abr/2011)

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